segunda-feira, 16 de agosto de 2010

OS TRÊS MOVIMENTOS DA VIDA INTERIOR


Vivemos em um mundo comunitario, no qual necessitamos um do outro para vive. Entretanto, nesse meio, é necessário ter um bom relacionamento com três pessoas: eu, o proximo e Deus. Essas são as três, que para mim é o ponto chave para um vida plena.
Eu me atreveria a dizer que precisamos, em alguns momento, olhamos para dentro de nós mesmo para enchergarmos aquilo que somos e temos. É nesse processor que conheceremos a nós mesmo. Precisamos nos defrontar com o nosso eu, para vermos aquilo que somos de verdade. Quando não queremos olhar para algo,  é evidente que esse algo não me interessa, e desta maneira não tem importancia.
Para olharmos para algo é necessário querer olhar. É o primeiro passo para o conhecimento de si, do proximo e consequentemente de Deus.
Mas como fazer isso, se constantemente somos bombardeado por todos os lado de "coisas" que nos impedem de fazer esses movimentos?
Como eu falei anteriormente, temos que querer!
Você já deve ter se deparado com uma agua suja, ou cheia de coisas que impedem de ver o que tem no fundo. Qual a primeira coisa que você faz quando se depara com essa situação? Bom, eu começaria a tirar aquilo que impede deu ver o fundo. Seria essa sua atitude?
Pois é, eu diria que esse é o primeiro passo para começar enchergar o eu, o proximo e a Deus. Nas nossas vidas, seria como essa agua turva, cheia de impecilho que não permite que encheguemos o fundo de nosso eu, o outro e de Deus. O importante agora é começar a trabalhar e fazer a limpeza, para que possamos tomar banho, e deixar com que os outros tomem também. Mãos a obra!

Continuamos na proxima postagem.....

Abraço.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

MISTÉRIO NO DESERTO


Meu rosto se esvaia em suor. Meu corpo pedia um igarapé, piscina, qualquer coisa liquida que pudesse amenizar aquele calor infernal. Não sabia o que fazer. Em toda direção que eu olhava era sol e mais sol. Socorro!
Sentia-me em um forno. Calor insuportável!
Olhei para frente e observei um lago maravilhoso com patos a nadar, crianças me chamando a deleitar-me nas águas cristalinas da lagoa. Que oásis! Doce ilusão!!!
Andava, andava! Não sabia onde estava! Olhava e não entendia em que lugar me encontrava. Sentia aquele calor infernal, mas não conseguia entender. Será que eu estava sonhando? Andava, andava! Areia, sol e nada mais! Perguntava-me o que eu estava fazendo naquele lugar?!!! Não lembrava o passado e nem imagina o futuro. O presente era real. Mas o que eu estava fazendo naquele lugar? Porque eu não lembrava de minha entrada naquele deserto?!!!! Coisa estranha! Como entender tudo aquilo? Resolvi parar, e comecei a pensar naquela realidade sufocante! Olhava pro horizonte e só areia, lindas dunas que se moviam com o soprar do vento. Levantei-me e continuei a caminhar e deparei-me com um abismo. Lá em baixo areia e areia. Comecei a dar gargalhada. Fui descendo devagar aquela imensidão de areia.
Aos poucos fui me acostumando com aquele ambiente escaldante.
O sol foi tomando seu lugar no final do horizonte, e a noite foi chegando. O ambiente quente tornou-se frio. Olhei para meu corpo e observei que roupas grossas estavam sobre mim. Comecei a sentir um friozinho, mas aos poucos a roupa me esquentava Que estranho tudo aquilo! O que estava acontecendo? Como poderia aparecer, do nada? Mas não tentei entender, apenas viver aquele momento diferente. Resolvi deitar ali mesmo e olhar para o céu e observar as estrelas. Que noite linda foi aquela!! Parecia que eu estava contemplando a face de Deus. As estrelas pareciam piscar para mim querendo me dizer algo. O que elas queriam me falar? De repente uma estrela saiu de seu lugar e começou a cair fazendo um risco no céu formando um caminho de luz brilhante. Que lindo!
Os meus olhos começaram a pesar e não consegui permanecer acordado. Quando dei por mim, o sol dava bom dia no horizonte. Uma linda bola brilhante e dourada surgia por entre as dunas. Olhei para mim e as roupas pesadas não estavam sobre o meu corpo. Que estranho! Eu estava vestido de uma veste bege e um chapéu sobre a cabeça para impedir que o sol cozinhasses minha cabeça. O incrível de tudo, é que não sentia fome e nem sede, apenas uma vontade imensa de jogar-me em um rio, igarapé, piscina ou coisa parecida.
Encontrei no caminho um lagarto que corria, de forma engraçada, sobre a areia. Fiquei olhando. Ele parou, olhou-me e disse: “Pra onde o senhor esta indo?”. Eu respondi: “o lugar eu não sei, só sei que tenho que chegar em algum lugar”. O pequeno animal fitou seus grandes olhos em mim profundamente e disse que eu estava no caminho certo. Perguntei-lhe: “Que caminho? Pra onde estou indo?”. Ele disse: “Não se preocupe, você em breve chegará ao seu destino. Aproveite o passeio, ele será de grande valia para sua vida”. O pequeno animal saiu correndo e desapareceu. Achei estranho, mas não questionei e continuei a minha caminhada. O destino!? Não sei! Apenas continuei a andar para um lugar que nem eu sabia onde ficava. Só sei que estava no caminho certo. Que estranho!!!
A noite veio chegando, e a lua tomou seu lugar no céu. Quando olhei pro meu corpo, novamente roupa de frio tinha aparecido sobre meu corpo. Continuei a andar, subindo uma duna de areia. Quando cheguei no topo, olhei para baixo e vi uma pequena casa iluminada por tochas e na porta uma senhora me chamava. Ela disse que estava a minha espera. Mandou que eu entrasse e sentasse. Apesar de não estar com fome, ela serviu-me uns pratos de comida que eu nunca tinha visto e nem comido durante a minha vida. Tudo estava delicioso. Após o banquete, levou-me a um lugar que parecia um quarto, com um grande tapete no chão com grandes almofadas e lençol. Deite-me e percebi que aqueles panos das almofadas e lençol que eu iria me cobrir, era do melhor pano, que eu nunca tinha tido a oportunidade de usar. Tudo era perfeito, divino. Senti-me como um rei. Fui adormecendo ao som de uma voz que entoava cantos angelicais. Era a senhora que cantava para eu dormir. Sua voz era perfeita, que encantava e acalmava. Quem era aquela senhora?!!! A onde eu estava?!!!
Na manhã seguinte, senti um leve toque sobre o meu rosto e uma voz angelical me chamava dizendo que já era a hora de acordar. Levantei e ela, a senhora, levou-me a um outro compartimento. Uma mesa estava posta e sobre ela diversas frutas, pães, mel, doces, etc. Sentei e fui servido. Depois de me fartar com toda aquela iguaria, fui convidado a continuar a caminhada. Agradeci a senhora, sorri e continuei a busca do meu destino. De longe eu olhei pra trás e percebi que ela continuava na porta a me observar. Fiz um aceno com a mão, ela retribuiu, e depois desci uma duna. No caminho, fiquei pensando quem poderia ser aquela amável senhora. Olhei para as roupas do meu corpo e já não eram as mesmas do dia anterior e nem a da noite que passou. Agora eu estava com roupas brancas e um chapéu sobre a cabeça da mesma cor.
O dia estava muito bonito, mas muito quente. Olhei para o céu e vi uma águia voando. Ela veio ao meu encontro, pousou sobre meu ombro direito e começou a falar comigo. Perguntou para aonde eu estava indo. Respondi que não sabia, mas tinha certeza que aquele era o caminho. Aproveitei para perguntar se de lá do alto dava pra ver o que tinha na direção para onde eu estava andando. Ela disse que sim, mas que era preciso paciência, pois dentro de pouco tempo eu estaria no meu destino. Abanou as asas e saiu voando, dizendo pra eu ter confiança que em breve estaria no meu destino. Eu confiei e continuei o caminho. Estava muito quente e acabei desmaiando. Quando acordei eu estava cercado de várias pessoas com roupas brancas. Uma criança estava sentada ao meu lado e a minha frente duas pessoas que me parecia muito familiar. A criança olhou para mim e deu um grande sorriso, seguido de reverencia. Que estranho! O cansaço era grande que não consegui ficar acordado e dormi novamente. Ao acordar, percebi que era tarde. A criança permanecia ao meu lado e quando a olhei, sorriu novamente. O seu sorriso era angelical! Chegou um casal com vestes brancas que com gestos pediram para que eu os acompanhasse. A criança segurou em minha mão e puxou-me até uma grande sala; no centro, tinha uma grande piscina. Deixaram-me ali e saíram para que eu pudesse ficar a vontade. Tomei um banho demorando, como eu desejava a muito tempo quando estava andando pelo deserto. Vesti roupa deixada em uma poltrona e fiquei sentado esperando que alguém viesse me buscar.
Depois de um tempo, abriu-se uma cortina e a criança novamente veio ao meu encontro, pegou em minha mão e saiu me puxando para uma outra sala onde estava posta a mesa com comida farta. Sentei sobre uma almofada. Umas mulheres, que eu imagino que fossem criadas, serviram-me. A criança apenas me observava e ria para mim. Eu fiquei encantado com aquele sorriso de anjo, apesar de não saber como é o sorriso de um anjo, mas aquele deveria ser um, pois transmitia paz.
Que lugar era aquele? Onde eu estava? Será que esse era meu destino? Tocou um sino e fui convidado a passar para uma outra sala decorada com grandes cortinas douradas e poltronas aveludadas. Olhei para o alto, vi que o teto era todo de vidro, mostrando a grandiosidade do céu. Tudo era diferente. Que lugar incrível! Afinal de contas, onde eu estava?
Sentei-me em uma das poltronas que eu nunca tinha visto na minha vida. O casal e a criança permaneceram no mesmo recinto. A criança veio ao meu encontro e sentou no chão na minha frente. Olhou-me e sorriu. Seu sorriso me encantava, dava-me uma paz grandiosa.
O casal ficou a olhar-me. O semblante deles transmitia: serenidade e simplicidade. Era bom estar ali! Eu não queria sair daquele lugar, mas sentia no meu coração que em breve teria que continuar minha caminhada. Aquele, ainda não era o meu destino. Para onde eu iria?
Depois de um longo tempo esperando, entrou um bom velhinho que sentou na cadeira ao meu lado. Segurou fortemente em minha mão e disse: “Filho, é chegada a hora de continuar a sua caminha. Este foi somente um descanso para você recobrar as energias. Este casal o levará até a porta. Caminhe sempre reto. O cansaço abaterá sobre você, mas não temas, pois sempre haverá alguém para lhe socorrer. Vá em paz!”
O casal e a criança levaram-me até a porta. A criança veio ao meu encontro e deu-me um grande abraço. Desta vez ela falou: “Eu sempre estarei contigo”. Pediu para beijar minha testa e descendo de meu colo, segurou em minha mão e começou a caminhar comigo. Quando percebi a criança tinha desaparecido. Olhei para o lado, percebi que, além das minhas pegadas, também da criança estava ao lado. Achei incrível aquilo, mas continuei a caminhada.
Apesar do sol estar cozinhando minha cabeça, sentia uma paz indescritível. O sol começou a se pôr. Resolvi sentar na areia e contemplar aquela maravilha de Deus. Deitei no topo de uma duna e percebi que, quanto mais o sol sumia, o frio chegava permitindo que eu descansasse da temperatura escaldante. Adormeci e em certa hora da noite acordei; percebi que estava sob uma pequena tenda, e meu corpo envolto em roupas quentinha. Como já estava acostumado com aquele mistério, voltei a dormir.
Na manhã seguinte acordei com raios de sol que entrava por uma pequena janela na tenda. Ao meu lado direito um banquete estava pronto esperando por mim. Mesmo acostumado, a cada manifestação daquela, me levava a questionamento sobre todo aquele mistério. Uma coisa eu tinha certeza: alguém olhava por mim! Sentei-me e fartei-me com toda aquela guloseima.
A caminhada tinha que ser continuada. Levantei-me, agradecia a Deus e fui embora.
Caminhei a manhã toda. Quando o sol mostrava-se acima de minha cabeça, deparei-me com uma enorme duna. Meu Deus! Era íngreme de mais. Quando eu pisava a areia engolia parte de meus pés, dificultando a subida. Mas mesmo diante da dificuldade, continuei a subir. Levei muitas horas para subi-la. Mas ao final do dia, quando o sol já não me fazia companhia, consegui chegar ao topo. Minha companhia, naquele instante, era uma linda lua. Sentei no topo da duna e ali mesmo adormeci. Desta vez senti muito frio. Não apareceu a roupa de frio. Sofri muito naquela noite. Cavei um buraco para me abrigar do frio. Na manhã seguinte, não apareceu o banquete de sempre, mas para minha surpresa, quando olhei para o horizonte vi uma grande muralha dourada e um enorme portão. Meu coração começou a bater forte. De repente ouvir um estrondo e o portão começou a se abrir. À medida que se abria, uma luz muito forte sai e ofuscava meus olhos. Estando todo aberto, para minha surpresa, a criança de sorriso angelical que tinha prometido que estaria sempre junto comigo, veio ao meu encontro. Fez gesto com os braços para que eu a pegasse no colo. Carreguei-a e ela me deu, como no final do ultimo encontro, um beijo na testa. Desceu e segurou fortemente em minha mão e foi me levando de encontro à luz...
A cada passo que eu dava a luz ia penetrando em meu corpo, dando-me uma sensação de paz, alegria, fortalecimento...
Trin, trin, trin!!! O telefone tocou e eu despertei de um sonho maravilhoso, cheio de mistério, mas que me fez revigorar as energias. Que pena, no momento em que estava indo ao encontro de algo muito especial, acordei. Mas não tem importância. Que sensação boa.
- Alô! Bom dia, Marcelo.....
Ah! Eu ia esquecendo, meu telefone ainda era daqueles antigos que tocava trin...trin. Não se preocupe, já estou na era tecnológica. O que me falta é o dinheiro pra comprar um computador que só falta falar. Ops! Acho que estou atrasado. Agora lembrei, meus colegas dizem que já existe este tipo de computador. Mas eu chego lá! Não achas?...
Ruberval Oliveira

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O AMOR



O amor é o sentimento dos sentimentos. É a expressão da alma, que demonstra humanidade, compaixão daquele que o vive. É um simples sorriso, é um simples olhar.

O amor não é egoísta, ele sempre se abre ao próximo. Nunca pensa só em si, mas pensa em nós.

Ele dá a si mesmo, sem querer algo em troca. Prefere morrer para que o outro viva.

Por amor se morre para que a vida se renove.

Ruberval Oliveira

DO CÉU A TERRA, BENÇÃOS DE DEUS!



O céu estava nublado, nuvens negras se deslocavam de um lado para outro. Algumas se chocavam e provocavam explosões fazendo surgir relâmpagos que clareavam a terra mergulhada nas trevas. Gostas de chuva caiam uma após a outra como numa dança. De repente era acelerado o cair das gotas d’água.
No sitio, senhoras corriam para o quintal para retirarem as roupas do varal.
- Comadre, corra que vem um temporal! - falou Maria para a vizinha Lucia.
- Vai ser um toró daqueles, comadre!
Tiravam roupa daqui, e de lá. Bam, bam, bam. Trovões eram ouvidos. As comadres corriam para que a chuva não molhassem as roupas.
Ufa! Conseguiram tirar as roupas. Algumas pegaram uns respingos. Serão colocadas em uma pequena área para que sequem com o vento.
Lá fora, a chuva fazia a festa. A água que cai ia escorrendo por entre as arvores e as plantas formando, lá em baixo, poças d’água que são um convite para brincadeira de criança.
Os patos faziam a festa. Uns abanavam o rabo, outros estavam nadando em uma pequena lagoa que estava sendo abastecida pela água da chuva. São patos brancos, pretos, cinzas.
Dona Maria estava na janela de sua casa observando todo aquele aguaceiro. Ela dava graças a Deus, pois a plantação estava sendo regada. Sabe que a colheita será farta, com toda aquela chuva. Queira Deus que todos os dias sejam assim! Pensou.
A galinha estava encolhida protegendo seus filhotes em baixo de uma arvore. Nem se mexia, apenas espera que a chuva terminasse seu trabalho. Ela sabia que depois viria o sol e tudo voltaria como era antes.
Chuva abençoada! O vento de vez em quando fazia as arvores balançarem de lá pra cá. Mas isto faz parte da dança da chuva. Trovões, relâmpagos, vento, água são os ingredientes necessários para a vida aqui na terra.
Sr. João, não conseguiu chegar em casa antes da chuva. Preferiu continuar a caminha, em direção a sua casa, no meio daquele aguaceiro. Dizia que aquela chuva era as bênçãos de Deus e por isso vinha de baixo dela para recebê-la dos céus. Era como uma purificação!
- Oi mulher!
- João, meu marido, entra logo senão irás pegar uma gripe.
- Que nada, mulheres, essas são as bênçãos de Deus.
- É marido! Mas, te enxuga logo e vem tomar um chá quentinho que acabei de preparar.
Sr. João obedeceu à esposa, foi ao banheiro, tomou um bom banho e depois foi até a cozinha para tomar aquele chá quentinho e delicioso.
De repente a chuva foi diminuindo e aos poucos o sol surgiu para fazer a sua parte.
A galinha encolhida protegendo seus filhotes abriu as asas permitindo que saíssem a ciscar procurando deliciosas minhocas. Que delicia! Para eles!
Os patos nadavam como num balé, um atrás do outro. A mãe à frente dava as ordens de comando.
Sr. João e Dona Maria ficavam na janela observando as transformações que vão acontecendo com o brilho do sol. Uma nova terra surge. Um novo homem e uma nova mulher dão graças pelas maravilhas que estavam contemplando. Tudo se realiza de forma harmoniosa graças a Deus.

Ruberval Oliveira

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A ROSA E OS ESPINHOS


Olá meus amigos e amigas! hoje começo a postar alguns dos meus humildes escritos. espero que vocês gostem! Forte abraço!....


Era noite, uma hora e cinqüenta e oito minutos da madrugada. Cherman encontrava-se em seu quarto olhando pela vidraça a chuva torrencial que caia. Gotas de chuva deslizavam por sobre o vidro da janela que o levava a pensar em sua infância, quando ficava a observar a chuva que caía, imaginando que Deus tivesse esquecido a torneira do banheiro aberta. Um breve sorriso se observava em seu rosto demonstrando uma profunda saudade de um tempo em que tudo era simples e ingênuo.

Cherman estava passando por um momento atordoante com muitas dificuldades que não conseguia superar. Sua empresa não estava indo bem, sua esposa saíra de casa, seu filho mais velho e adolescente estava passando por uma fase em que tudo é permitido, nada tem limite.

Olhando as gotas de chuva na vidraça, remeteu-se ao tempo em que a vida não era complicada. Os problemas a ele não pertenciam, pois havia outras pessoas que podiam resolver.

Um fato lhe marcou muito, o dia em que caiu da árvore e quebrou o braço. Chorava pela dor, mas tinha um consolo de que seus pais vinham socorrê-lo e tudo ficaria bem. Seu pai tiraria o carro da garagem, enquanto sua mãe o carregaria e o levaria ao hospital. Tudo ocorria conforme pensado. Não precisava resolver nada, apenas esperar que tudo acontecesse como que em um passe de mágica. Seus super-heróis (pai e mãe) o salvaria. Tudo resolvido!

Mas agora ele estava sozinho, sem ninguém para socorrê-lo. Os seus super-heróis não estavam por perto, precisava enfrentar sozinho os problemas da vida. “Que tristeza! Como eu era feliz na infância”, dizia ele.

A chuva continuava, permitindo que seus pensamentos vagassem pelo passado ao encontro das maravilhas de sua infância. Lembrava da casa da árvore, do porco no quintal, do gado no pasto, das galinhas a ciscarem a terra em busca de comida. Tudo corria de forma prazerosa e harmoniosa.

Em suas lembranças, recordava do seu pequeno animal de estimação chamado Felpudo. Felpudo era um pequeno coelho que estava sempre em sua companhia. Ele era o seu amigo inseparável. Se ia pro lago, lá estava seu amiguinho, se estava dentro de casa, Felpudo também estava junto. Não largava pra nada. Amigos inseparáveis!

Mas num belo dia de verão, Felpudo, estando velhinho morreu deixando uma profunda tristeza. Seu melhor amigo já não estava ali para acompanhá-lo em suas aventuras.

A dor, que sentiu no passado, estava sentindo no momento. Sentia-se sozinho, sem o seu melhor amigo.

Aquele tempo, com a morte de Felpudo, foi difícil de superar. Mas a ajuda de seus pais conseguiu superar tamanha falta.

Nos dias que se passaram, ele veio a entender que nada é eterno, tudo tem um fim. E o fim do seu amigo tinha chegado. Era preciso dar continuidade à vida. E esta dinâmica da vida lhe deu um super presente. Em vez de um amigo, ele recebeu vários amiguinhos. Felpudo tinha deixado uns filhotes. Sem ele saber, em um belo dia, o pequeno coelho, fugiu e cruzou com uma coelhinha do vizinho. Os filhotes nasceram, mas Cherman não ficou sabendo de nada. O vizinho vendo-o triste resolveu revelar-lhe a feliz notícia. Que alegria, meu amigo deixou filhotinhos!

Eis que agora tinha muito trabalho. Todos os dias fazia a higiene da pequena casa, feita por seu pai, para os filhotes, e dava de comida, pois eles eram gulosos. Foram dias maravilhosos. A falta de seu amiguinho foi substituída por seus filhotes.

Tudo mudou, Cherman cresceu, fez faculdade de Administração, casou com uma linda mulher, teve dois filhos. E agora encontrava-se com problemas. Como resolvê-los?

A chuva que caía lá fora foi diminuindo sua intensidade. A água na vidraça já não era intensa, convidando-o a resolver o que estava pendente.

Às 6 horas da manhã, ainda estava acordado. Gotas finas de chuva se observava pela vidraça. “Acho que Deus percebeu que tinha deixado a torneira aberta”, disse ele com um sorriso no rosto.

O sol surgiu no horizonte, convidando a despertar e enfrentar os problemas da vida.

Ainda com sono, Cherman, tomou banho, vestiu-se com o terno de trabalho, saiu de casa e foi até o barzinho da esquina para tomar um café, já que estava só, sem esposa e sem filhos.

- Bom dia Tom!

- Bom dia, senhor Cherman!

- Um café, por favor!

- É pra já doutor. O senhor acordou cedo hoje.

- É! Não consegui dormir direito hoje. Estava pensando na vida.

- De vez em quando é bom pararmos um pouco, pensarmos em nossa vida.

- Tens razão Tom!

- Pronto doutor, seu café!

- Obrigado!

Continuava a pensar em seus problemas, voltando de vez em quando ao seu tempo de menino..., e pensava nos seus pais que com garra conseguiam superar os obstáculos.

- Que pena que meus pais não estejam mais vivos para me aconselhar. Resolviam tudo com muita maestria!

Seus super-heróis não estavam por perto pra socorrê-lo.

- O que fazer meu Deus!

Dirigindo a sua empresa, observava na rua muitas pessoas. Algumas demonstravam alegria no rosto, outras tristeza, outras raiva.

Ele ficava imaginando o que poderia estar acontecendo na vida de cada uma. Perguntava a si mesmo, o porquê de algumas estarem tristes, enquanto outras estavam com raiva, já que a o sol nasce da mesma forma para todos.

Sempre vinha em sua memória o momento feliz, quando criança. Seus pais já teriam arranjado uma maneira de resolver tudo.

- Papai e mamãe, quanta falta sinto de vocês!

Ao falar isso, lembrou-se de um outro dia em que tropeçou em um galho de árvore e começou a chorar gritando pelo socorro de sua mãe. Ela de imediato deixou o que estava fazendo e saiu correndo a lhe socorrer.

- Mãe! Precisava agora de teu socorro, como tu fazias quando eu era criança.

Naquele instante, lágrimas copiosas saíram de seus olhos, deixando vir à tona o quanto estava atordoado. Não sabia o que fazer.

- Mãe, Pai! Um grande vazio se espalha por entre minhas entranhas, que me sufoca, tornando-me vunerável. Não estou sendo um bom pai e nem um bom marido. O exemplo de vocês, não estou exercendo.

Após um longo tempo, resolveu dar continuidade a caminhada em direção a empresa. Sempre andando desmotivado como alguém que vai para a forca. Não tinha ânimo para voltar a um lugar que lhe trazia somente tristeza, angústia. Entretanto, precisava enfrentar as dificuldades, como a exemplo de seus pais. E isto o fazia querer lutar. Por esse motivo resolveu achar meios que o levasse, a resolução de seus problemas.

Depois de andar alguns minutos pela rua chegou a empresa. Sem falar com ninguém se dirigiu para sua sala, e lá ficou bastante tempo tentando encontrar meios que levasse a resolução dos problemas.

Todavia, alguma coisa soprava em seus ouvidos para que resolvesse primeiramente a situação com sua esposa. Não estava agüentando ficar longe dela e de seus filhos.

Os seus pensamentos se voltavam aos momentos felizes quando estavam juntos em casa no almoço aos domingos, os passeios para a cidade vizinha, onde se encontrava um grandes lago rodeado de belas montanhas, com árvores grande e de folhas verdes que davam um toque todo especial àqueles momentos sublimes.

Um outro momento especial foi o nascimento de seu filho mais velho. Foi a alegria da família. Sua esposa no dia em que foi ao hospital para dar a luz estava nervosa. Ficava imaginando a carinha dele ou dela, já que não sabiam o sexo. Os momentos que antecederam o nascimento foram de alegria, suspense e nervosismo. Todos rezavam para que tudo desse certo.

Exatamente às 13 h do dia 11 de julho de 1989, nasceu Vitor. Era um belo garoto. Seus olhos mal podiam abrir, mas ele forçava, demonstrando curiosidade para ver quem era aqueles que estavam ao seu redor. Um choro forte pôde-se ouvir. O novo membro da família de Cherman acabara de vir ao mundo. Todos alegremente se abraçavam e choravam de emoção.

Cherman era só alegria. Saiu nos corredores gritando de felicidades, abraçando as enfermeiras e médicos. Todos ficavam admirados com tamanha façanha. Isto não era comum de acontecer naquele hospital.

Sua esposa foi levada ao quarto e o bebê foi para o berçário receber o acompanhamento do pediatra. Mas tudo estava muito bem, com o bebê e a mãe.

Após uma meia hora foi permitida a visita dos familiares à mais nova mãe.

Muitas flores chegaram ao quarto. Presentes para o bebê, telefonemas de vizinhos e amigos mais próximos.

A mãe de Cherman, que ainda estava viva assim como seu pai, trouxeram um belo presente para o Vitinho. Um pequeno coelhinho de pelúcia que imitava o Felpudo, seu amiguinho de infância, o pequeno coelho.

Uma pequena lágrima foi saindo e seus. Não pôde conter a emoção. Pois aquele gesto de seus pais lembrava grandes momentos.

Vitinho cresceu e agora completara 15 anos. Estava prestes a entrar na faculdade. Pretendia seguir os caminhos do pai, Administrador de Empresas. Pelo menos é o que ele dizia quando tinha seus 11 anos. Todavia, o Vitor quando estava na 8ª Série, começou a mudar seu comportamento dentro de casa e na escola. Sempre foi um garoto estudioso, mas por influência de seus amigos começou a mudar.

O jeito de vestir, mudou. Suas notas na escola baixaram um pouco, mas não foi motivo para repetir de ano. Freqüentemente seus pais eram chamados pela coordenação escolar para conversarem sobre os comportamentos dele. Várias vezes foi pego batendo em seus colegas. Umas dessas vezes deu um empurrão em um desses que quebrou o braço direito do garoto. Seus pais conversaram com ele, deram um castigo, mas de nada adiantou. Continuou a fazer as mesmas coisas.

A direção, juntamente com a coordenação escolar, resolveram investigar para saber o que estava acontecendo com o garoto, pois não era normal aquela atitude.

Ao final de tudo descobriram que os pais de Vitor estavam com problemas em casa, e muitas vezes presenciou brigas. A empresa de seu pai não estava indo muito bem e por isso o nervosismo imperava naquela casa.

A esposa de Cherman resolveu mudar com as crianças para uma outra casa, e só voltaria quando tudo estivesse resolvido.

Tudo isso consumia demais a vida de Cherman. Pensou em começar a mudar pela família. Deveria ir em busca daquilo que ele dizia ser a coisa mais preciosa de sua vida, sua família. Mas os negócios da empresa e o ativismo do mundo o fizeram se distanciar dela.

Esteve na empresa a manhã toda e após o almoço em restaurante próximo dali. Passou em sua casa, pegou o carro e foi em direção à casa onde estavam sua esposa e seus filhos. A três quadras de lá, em um cruzamento, um outro carro avançou o sinal e o pegou de cheio.

Em segundos, Cherman viu passar em sua frente toda a sua história, com suas alegrias e tristezas. Ele apenas sentia algo se mexer e umas vozes. Essas vozes eram as pessoas ao seu redor. Policia e ambulância chegaram e o levaram para o hospital mais próximo. Seu quadro medico exigia bastante atenção, pois o acidente tinha sido grave.

O rapaz do carro que avançou o sinal, infelizmente não conseguiu suportar os ferimentos e morreu. Junto com ele estavam mais três pessoas. Elas felizmente estavam bem, só precisando de observação.

Na casa, onde a esposa de Cherman estava, o telefone tocou. Quem atende é o seu filho mais velho. A voz do outro lado pedia para falar com alguém que fosse parente dele. O garoto chamou sua mãe e esta ao atender e receber a noticia, desmaiou e foi amparada por seu filho que ficou sem saber o que fazer. Após alguns minutos ela retomou a consciência. Começou a chorar e Vitor ficou desesperado para saber o que havia acontecido. Sua mãe, após várias tentativas, conseguiu lhe dizer o que teria acontecido e este começou a chorar desesperadamente, pedindo para ver seu pai.

Pegaram o carro e se dirigiram para o hospital. Chegando lá descobrem que Cherman estava inconsciente, mas demonstrava melhoras. As horas passaram e finalmente o médico deu uma boa noticia. Ele estava fora de perigo e dentro em breve estaria plenamente consciente.

Às 4 horas da madrugada, todos estavam exaustos. Surgiu do corredor principal o medico que estava tomando conta de Cherman. Ele trazia boa notícia!

- Senhora, seu marido já está acordado e pede para vê-la.

- Ó meu Deus! Que bom!

Imediatamente ela sai correndo para ver seu marido. Seus filhos queriam também entrar no quarto, mas a enfermeira pediu que aguardassem. Cherman não podia ter emoções fortes por enquanto.

Sua esposa entrou no quarto e observou que seu esposo estava com aparelhos monitorando-o, mas estava consciente. Ele levantou um braço, fazendo o gesto para que se aproximasse. Ela foi ao seu encontro e segurou firmemente em sua mão. Ao sentir o calor da mão de Cherman, começou a chorar. O paciente não conseguiu falar, pois sua boca estava pesada. Mas o médico, explicou que era normal. Doses fortes de remédios foram dadas e aos poucos voltaria ao normal.

O medico pediu que ela saísse do quarto para que Cherman pudesse descansar, pois passou por um período muito crítico e necessitava de repouso. E assim se fez!

Os filhos estavam ansiosos para ver o pai. Mas, não era permitido naquele momento e todos voltaram para casa.

No dia seguinte, todos, mais calmos, voltaram ao hospital para ver como estava o doente.

Chegando ao hospital, encontraram-no sentado na cama, tentando levantar. Seu filho ficou muito sensibilizado, começou a chorar e correu para abraçá-lo. Os dois choraram juntos e um pediu desculpas ao outro. A mãe ficou no canto observando de braços cruzados, muito emocionada. Pai e filho se beijaram, ficaram olhando um no olho do outro e logo em seguida se deixatam envolver em um longo abraço.

- Pai, desculpe por ter decepcionado você. Eu pensava que iria perdê-lo! Pai, eu te amo muito. Não nos deixe!

Um longo silencio se fez naquele momento. Pai e filho comoveram a todos que ali estivam.

Cherman olhou para sua esposa e pediu que se aproximasse. Pegou-a em seus braços e fez um carinho. Segurou seu rosto e deu-lhe um beijo de reconciliação. Ela não conteve tanta emoção e começou a se derramar em lágrimas, pedindo perdão por não compreendê-lo nos momentos em que mais precisava. Os dois ficaram bastante tempo juntos, até que o médico entrou no quarto e falou que seria necessário que todos se retirassem para que o paciente pudesse descansar, pois o seu quadro médico ainda requeria cuidados. Eles saíram do quarto e voltaram para casa com muita alegria, pois tudo estava voltando a ser como era antes.

No dia seguinte, todos voltaram ao hospital e, desta vez Cherman pediu para que Vitor e a filha menor ficassem próximos da cama. Ele começou a perguntar como ia a escola, sobre os coleginhas, o desempenho nas provas e começou a contar uma história de sua infância.

- Teve um tempo de minha vida, quando criança, que deixei meus pais muito preocupados quando eu saí pela floresta em busca de aventura. Na redondeza de nossa casa existia uma floresta muito bonita, com grandes árvores que me encantavam. Eu tinha vontade de morar no meio delas para sentir o cheiro e poder tocar na terra úmida. Ficava imaginando um grande pé de feijão como na história de João e o pé de feijão.

Os dois ficaram atentos a tudo que o pai falava. Cada palavra era como um tesouro que estava sendo desvendado.

Dizia que tinha vontade de ter uma casa no tronco de uma árvore. Ficava desenhando no chão como ela poderia ser.

Em um dia de sol, todos estavam em seus afazeres diários, quando Cherman resolveu pegar uma pequena machadinha e foi em direção à floresta.Ficou ali muito tempo, observando qual árvore poderia ser a futura casa de seus sonhos.

Escolheu daqui, dali, até que encontrou uma bela árvore, muito grande. Perfeita para sua obra de arte!

Marcou, na árvore, o local onde começaria a escavar e no outro dia voltou para dar início a sua obra prima. Corta daqui, corta dali. Isto durou muitos dias.

Todos os dias saía de casa às 8 horas, voltava para o almoço e depois novamente se dirigia à floresta para terminar sua obra. Ninguém sabia de tal proeza. Todos pensavam que estava brincando por perto.

Em uma sexta-feira, às 18 horas, todos em casa estavam preocupados, pois Cherman ainda não tinha voltado. Sua mãe foi ao local onde costumava estar com seu amiguinho Felpudo, mas não o encontrou. Procuraram no galinheiro, na casa do vizinho, em quase todo lugar, mas não o encontraram.

Ele ficou tão entusiasmado com a sua casa no tronco da árvore que esqueceu do tempo. Quando percebeu já era tarde da noite e não tinha como voltar para casa.

Seus pais estavam desesperados e não sabiam mais o que fazer. Os amigos começaram a chegar à fazenda juntamente com o delegado que era amigo da família.

A mãe chorava sem parar!

Ainda de noite resolveram fazer uma busca pela redondeza, mas de nada adiantou, pois estava muito escuro e não conseguiam enxergar nada. A única coisa que, naquele momento fizeram, foi rezar e esperar o dia amanhecer e fazer uma nova busca.

Enquanto isso na floresta, Cherman estava encolhido dentro de sua nova casa, com medo e fome. A única coisa que tinha levado era um pedaço de pão que sempre colocava no bolso sem sua mãe ver. Ele comeu, mas sua barriga estava roncando. O pão não foi suficiente para saciar a fome. O que ele poderia fazer era agüentar a fome, o frio e esperar o dia amanhecer para voltar. Ele dormiu!

Na casa, chegou o filho do vizinho que tinha mais ou menos a sua idade. Ele disse que depois do almoço viu Cherman se dirigir para a floresta com um machadinha na mão, mas não tinha certeza para que direção ele teria ido.

De nada adiantou, andaram muito e não conseguiram encontrá-lo. Na realidade, passaram por perto dele, mas não puderam vê-lo, pois estava escuro e ele estava dormindo profundamente. Estava cansado de tanto trabalhar em sua casa. A abertura no tronco da árvore era de difícil acesso.

Voltaram para casa e ficaram a esperar o dia nascer. Ninguém arredou os pés. Os homens ficaram lá fora jogando, enquanto que algumas mulheres foram para dentro da casa fazer café para espantar o sono. A noite parecia não ter fim, tudo andava devagar.

O pai de Cherman andava nos corredores impaciente sem saber o que fazer.

Eram cinco horas da manhã e todos ainda estavam por perto.

O café foi servido novamente. Sua mãe ainda nervosa, estava rezando para que seu filho estivesse em segurança.Ficava pensado na noite de frio que ele poderia ter passado, que poderia está com fome. A preocupação era visível no rosto de todos. Esperavam o amanhecer para dar continuidade às buscas na floresta.

Seis horas da manhã todos prontos para darem continuidade às buscas.

Enquanto isso, na floresta, Cherman continuava na pequena abertura no tronco da arvore. Estava muito frio, encolhia-se debaixo de um casaco que levou consigo. Sua barriga roncava de fome. Para sua alegria, o sol estava surgindo e pequenos raios entravam na pequena casa fazendo com que ele despertasse.

Estava fraco, mal conseguia andar, mas começou a sair e foi devagar pela floresta, e sua barriga a cada instante roncava ainda mais. A sua casa ainda estava longe, mas se esforçava para continuar.

Enquanto isso, os amigos da família continuavam a busca. Mas o sentido a que eles se dirigiam era contrário ao que o garoto estava.

Exausto, Cherman continuava sua caminhada em direção de casa, a fraqueza venceu, caiu no chão ficando desacordado por alguns minutos.

Recobrou os sentidos, levantou e continuou o seu objetivo, que era chegar em casa. Após andar uns bons minutos, conseguiu avistar a saída da floresta. Começou a chorar, mas foi andando devagar. Finalmente estava mais próximo de casa. Pôde vê-la ao longe e isso já era um alivio.

A mãe estava impaciente, não sabia o que fazer. Ficava pensando que um animal poderia tê-lo machucado, que estaria com fome. Mil e um pensamentos assolavam sua cabeça. Ao mesmo tempo colocava a vida de seu filho nas mãos de Deus. Rezava, rezava e rezava!

Os amigos da família continuavam a busca, e de nada adiantava.

Às dez horas da manhã Cherman chegou à primeira cerca. A casa estava a cem metro dali. Que felicidade!

Seus passos eram lentos, seu estômago resmungava a cada instante. Não via a hora de poder chegar em casa e abraçar seu pai e mãe. Ele precisava urgentemente comer alguma coisa.

Finalmente, conseguiu chegar a porta de casa. Todos estão lá dentro. Abriu a porta da cozinha e caiu desmaiado. Sua mãe saiu correndo e o agarrou gritando por socorro. Os amigos da família correram para ver o que havia acontecido. Cherman estava lá, caído e amparado por sua mãe.

Sua tia ligou para o médico, que de imediato veio socorrer o pobre menino. Levaram-no para o quarto! O médico examinou e percebeu que estava desidratado.

Os amigos da família, que estavam à procura dele na floresta, chegaram tristes, mas logo ficaram alegres por saber que ele já chegara em casa.

O médico fez a medicação e pediu que fosse dada uma sopa para o garoto recobrar as forças. Cherman passou quase vinte quatro horas sem comer direito. Precisava de muito carinho e repouso.

Seus pais choravam de alegria!

Todos ainda não entendiam o que ele estava fazendo na floresta. Todavia, era necessário deixá-lo descansar e depois iriam saber da boca dele o que havia acontecido.

Os amigos da família voltaram para suas casas felizes por tudo ter acabado bem. Os pais de Cherman agradeceram imensamente por tudo que eles fizeram.

No dia seguinte já restabelecida as forças, o garoto, finalmente contou o que havia acontecido. Sua mãe deu uma bronca nele, mas ficou tudo bem. Seu pai deu um forte abraço e pediu que nunca mais fizesse tal proeza.

Após o termino da história...

- É isto meus filhos. Foi uma experiência em tanto. Mas serviu de lição.

- Pai, e a casa no tronco da árvore, ainda existe? - Falou Vitor.

- Sim! Da ultima vez que fui ao sitio, após a morte de sua avó, não deixei de ir até o meu antigo refúgio. Ele continua do mesmo jeito. Depois do acontecido comigo, voltei várias vezes lá. Seu avô também foi. Depois que eu ficar bom os levarei até lá.

Após algumas semanas no hospital, Cherman, voltou a sua casa e encontrou a família toda reunida. Uma bela mesa para o almoço estava posta. Sua filha estava brincando e ao vê-lo saiu correndo, mas foi parada pela mãe, pois iria pular em cima do pai. Não estava ainda totalmente curado.

O almoço foi ótimo. Todos ao redor da mesa, conversaram sobre tudo. Perguntas foram feitas por Vitor à seu pai sobre sua infância. Queria saber minuciosamente sobre o que ele fazia, de que brincava, como era o avô, etc.

Isto era tão bom para Cherman, sentia-se feliz, a família estava junta novamente. Um brilho era transparente em seus olhos. Estava contemplando as suas jóias preciosas. Nada tinha valor a não ser aquele momento sublime. Seu coração estava tão alegre que batia freneticamente, pulsando o amor. O seu semblante era estático como um ser apaixonado.

Sua esposa percebeu o seu jeito e perguntou:

- Cherman, você está bem? Está com um olhar diferente. Um brilho emana de seu olhar.

- Estou muito bem. Não poderia estar melhor. Mesmo diante de dores em quase todo o meu corpo, sinto-me feliz pela existência de cada um, de vocês. Eu renasci das cinzas e não quero perder nenhum momento de minha vida. Eu os amo de mais e a partir de hoje irei me empenhar para preservar esta felicidade. Jamais quero estar longe de vocês de novo. Eu agradeço a Deus pela existência de meus filhos e dessa esposa espetacular. Obrigado!

Sua esposa começou a chorar. Todos se abraçaram e foram para sala onde continuaram a conversar e a relembrar os bons momentos que passaram juntos em todos esses anos.

As semanas passaram. Cherman recobrou a saúde e voltou à sua vida normal de trabalho ao lado da familia. Esta volta, deu-se de forma diferente, pois adquiriu a consciência da importância do cultivo de sua rosa chamada família, a qual Deus lhe tinha confiado a missão de proteger e de amar.

A empresa estava passando por dificuldades, mas ele estava decidido a resolver. Tinha algumas idéias que poderiam ajudar.

Depois de alguns meses lutando contra as dívidas da empresa, conseguiu estabilizá-la. Tudo correu às mil maravilhas.

As férias chegaram e toda a família saiu em viagem para o sítio onde Cherman morou com seus pais. Foi uma volta ao passado, onde reviveu os momentos felizes. Mas também foi momento de tristeza. Não encontraria seus pais. A fazenda estava vazia, somente os caseiros que cuidavam caprichosamente de tudo. Cada canto da casa continuava como seus pais deixaram.

A viagem durou umas três horas. Ao longe, uns três quilômetros mais ou menos se avistou a fazenda. A alegria tomou conta de todos. A vontade de chegar era tremenda, mas preferiu ir devagar para contemplar aquilo que foi e era sua alegria. As crianças ficaram maravilhadas com alguns cavalos que corriam no pasto, bezerros a mamar, as vacas a mugir e os passarinhos fazendo vôos rasantes sobre o carro, dando as boas vindas.

A sua filha ficou estupefata com o que estava acontecendo.

Para o Vitor e sua irmã tudo era novidade. A vida na cidade, com estudos e muitas outras coisas, não permitiam a presença na fazenda. Todos os anos apareciam desculpas. Às vezes era Cherman que precisava viajar; em outras a sua esposa necessitava cuidar da casa que estava em reforma. Mas agora era o momento certo. Tudo tem o seu tempo exato!

Chegando à casa, saíram do carro. As crianças foram correndo ver os cavalos que estavam bem próximo. Os caseiros vieram ao encontro de Cherman e de sua família, deram as boas vindas.

- Senhor Cherman, que alegria tê-los aqui. A casa está toda arrumada esperando por vocês. Minha esposa, após o seu telefonema pela manhã, preparou um bom jantar. Entrem!

- Muito obrigado, senhor Oscar! Como estão as coisas por aqui?

- Está tudo na santa paz. Uma vaca deu cria estes dias. Ah! Os vizinhos perguntam sempre pelo senhor. Pediram para que vá visitá-los para tomarem um café.

- Sem dúvida irei. Levarei meus filhos e minha esposa. Eles estão curiosos para saber as histórias de minha infância e dos avós.

Levaram suas malas para os quartos. A esposa de Cherman foi à cozinha verificar como estava o jantar. Conversou sobre vários assuntos com a esposa do senhor Oscar.

Finalmente chegou a hora do jantar. Estavam famintos! A mesa continuava no mesmo lugar de sempre. A impressão que Cherman tinha era que, sua mãe e seu pai estavam ali e que estavam felizes. Ficava imaginando os vários jantares que tiveram naquela mesa. Os quitutes de sua mãe, principalmente a sobremesa que era especialidade dela. Chegou a dar água na boca! Humm!

O jantar terminou, estavam exaustos da viagem. Precisavam dormir!

A noite foi maravilhosa. Um friozinho se fez permitindo uma boa noite de sono. No dia seguinte, todos acordaram cedo. Vitor e sua irmã foram até o estábulo ver a retirada do leite da vaca. Ficaram fascinados com tudo. A irmãzinha dele perguntava como a vaca conseguia produzir leite. Dizia que a mãe comprava no supermercado e depois batia com um pouco de água para eles tomarem. Como a vaca batia o leite já que ela não tinha colher e nem leite em pó? Contudo, o senhor Oscar, com simplicidade explicou para a pequena criança como a vaca transformava o leite em pó em leite liquido. É claro que ele inventou um pouco. Ela ficou maravilhada e pediu para tentar tirar o leite da vaca. A vaca de vez em quando mugia, quase que reclamando, mas não fazia nada para impedir que lhe tirasse leite.

O senhor Oscar pegou o balde e levou o leite para a cozinha, onde sua esposa já esperava.

Tomaram o café e Vitor perguntou ao pai quando iriam até a casa no tronco da árvore? Cherman disse que logo, mas precisava resolver alguns problemas da fazenda. Assim que possível eles iriam.

No dia seguinte foi o dia especial. Pegaram lanches, saíram andando pelo pasto e entraram na floresta. Alguns pássaros alertavam aos seus companheiros, a presença dos intrusos na floresta.

Andaram devagar observando os bichos, insetos que por ali passavam. A pequena menina ficou espantada com o tamanho de uma formiga. Depois observou alguns pássaros que cantavam alegremente, quase que dando as boas vindas a eles.

Vitor corria na frente e olhava atentamente as grandes árvores que estavam ao seu redor. Árvores centenárias que davam um toque todo especial àquela floresta.

Cherman revivia tudo de novo. Todavia, estava diferente, pois seu pai quando vivo mandou fazer uma pequena estrada que levava diretamente à casa no tronco da árvore.

Andaram alguns minutos e lá estava a tão falada casa no tronco da árvore. Vitor saiu correndo e foi logo entrando para ver a proeza de seu pai. Era perfeita, tinha até um eco.

Cherman, explicou como foi para fazer e como ficou a noite toda, com fome e frio, esperando o dia clarear para poder voltar para casa. Sorrindo ele disse:

- É! Neste tempo mobilizei, sem querer, toda a redondeza. Meus pais ficaram muito preocupados. Eu pedi muitas desculpas para eles. Quanta saudade sinto deles!

- Papai você foi muito valente ficando sozinho aqui. Mas eu não gostaria de passar por isso – falou Vitor.

- Nem eu quero que passe!

Cherman deu-lhe um grande abraço. Os três ficaram horas e horas sem falar nada, apenas contemplando tudo que estavam ao redor deles. Sua filha ficava brincando, correndo e rindo. Corria atrás de umas borboletas grandes que nunca tinha visto.

- Crianças! Está na hora de voltarmos. Já é tarde! A mãe de vocês pode estar preocupada. Não queremos mobilizar novamente a cidade. Não é?!

Voltaram pelo mesmo lugar. Cantarolavam! Vitor de vez em quando, gritava para ouvir sua voz ressoar na floresta.

Desta vez a caminhada foi rápida. Já estava próximo do almoço. Suas barrigas estavam roncando de fome. Chegaram em casa exaustos. Mas valeu a pena. E como valeu!

- Todos para o banho! - Falou Cherman

Ao descerem, encontraram a mesa posta. A comida exalava um cheiro maravilhoso que convidava ao banquete. Era um banquete que continha o maná dos deuses. Os presentes à mesa se deliciaram com tantos quitutes. O sabor era inigualável. Jamais tinham se fartado com tamanhas iguarias. Todos parabenizaram a esposa do senhor Oscar.

Ela era uma senhora humilde, com mãos de fadas. Exercia seus afazeres com esmero, que contagiava aqueles que a observam exercendo suas funções. A esposa de Cherman já tinha ouvido falar dela. Contudo, agora tinha a confirmação de tudo. Era uma mulher de grande valor que servia de exemplo a qualquer pessoa.

No outro dia, todos felizes saíram para conhecer a cidadezinha. Ela não era grande. Apenas com uma rua principal, onde se encontrava todas as lojas que vendiam os produtos necessários para vivência nas fazendas da redondeza.

Procuraram comprar algumas coisas interessantes para levarem de lembrança para os amigos da cidade grande. Tudo era novidade. Encontraram muitos doces de leite, queijo, doce de frutas. Provaram de tudo! Que delicia!

Encontraram com vários amigos que ficaram espantados ao verem os filhos de Cherman. A última vez que estiveram por lá foi quando criança. Mas infelizmente eles não lembravam. Faz muito tempo!

O tempo se passou e a estadia na fazenda estava terminando. As aulas e os trabalhos solicitavam na cidade grande, a presença de todos. Infelizmente, o tempo que estiveram lá se tornaram pouco. Os 30 dias se tornaram quase que um dia. O tempo quando estamos felizes, passam rápido de mais deixando sempre um gostinho de quero mais. Contudo, as obrigações do dia-a-dia fazem com que deixemos aquilo de que gostamos.

No caminho para casa, as crianças estavam tristes. Cherman tentava animá-los, mas de nada adiantava. Umas lagrimas escondidas emergiam dos olhos de Vitor. Os momentos na fazenda foram especiais. Aprendeu muita coisa. Ficou muito feliz por saber as histórias de seus avós, e de seu pai. Chegou à conclusão de que a vida é simples e bela. Não deve ser desperdiçada. Suas atitudes em casa e na escola antes do acidente de seu pai, tornaram-se vergonhosos a ele. Sentia-se arrependido por sua infantilidade. Um novo momento, uma nova vida estava surgindo. Mesmo sendo um adolescente, conseguia perceber algumas coisas que antes, a raiva, o ciúme, não permitiam que enxergasse a realidade sobre as coisas.

As reflexões, durante a viagem, fizeram o semblante de Vitor mudar. Percebeu que teria muito tempo para voltar à fazenda e se deliciar com tudo por ali. No momento precisava continuar seus estudos para no futuro dar continuidade àquilo que seus avós construíram com tanto amor e que tinham repassado a seu pai. Era a missão dele nunca deixar acabar tudo aquilo que para ele, a partir daqueles dias, tornou-se uma das metas para sua vida.

Cherman transparecia felicidade. No decorrer da viagem, olhava sua esposa ao lado e seus filhos no banco traseiro, deixando escapar um sorriso de felicidade. Finalmente estava junto, novamente com sua família. As dificuldades foram muitas, mas aos poucos estavam sendo solucionadas. Os dias que passaram na fazenda seriam perpetuados como os momentos da reconciliação. A retomada a sua origem, fê-lo ver o quanto é importante cultivar o lar. Para ele a família é a rosa plantada no jardim que no inicio é apenas um galho, uma muda, que deve ser cuidadosamente plantada, regada, adubada. Quando começam a surgir os primeiros ramos poderá ser enxertada com uma outra roseira e sugirá rosas especiais. Os espinho estão presentes na roseira, sem eles, ela não é roseira. São os espinhos que a fazem bela. Ao cultivador caberá o dever de ao longo de sua vida, cuidar, podar, adubar para que ela nunca morra. A cada florescer, um novo tipo de rosa surgirá demonstrando a dinâmica que a vida tem.

Cherman sentia-se como o cultivador da roseira. Ela era a sua família e jamais poderia deixá-la ao tempo, sem cuidados. As adversidades da vida não poderiam interferir na harmonia de seu lar. Para isso daria de tudo para vê-la feliz.